Morreu na manhã desta sexta-feira (26), aos 88 anos, o artista e poeta, xilogravurista pernambucano J. Borges. Ele morava em Bezerros, no Agreste de Pernambuco. A informação foi confirmada pelo filho Pablo, ao g1 Caruaru e região.
Segundo familiares, o pernambucano morreu de "causas naturais" por volta das 6h da manhã desta sexta-feira. Até a última atualização desta matéria, não foram divulgadas as informações do velório e enterro do artista.
J. BORGES
Artesão de cestinhas de cipó e brinquedos de madeira, oleiro, pedreiro, carpinteiro, pintor de parede, marceneiro, trabalhador da palha da cana, passador de jogo de bicho. Estes foram alguns dos ofícios que Jota Borges experimentou, antes de se decidir pela venda de folheto nas feiras de Pernambuco, Paraíba, Ceará e, principalmente, na Praça do Mercado de São José, no Recife, o que aconteceu a partir de 1956. Matuto esperto e comunicativo, logo descobriu ser exímio talhador de madeira e criador de histórias em versos. E o tempo de permanência na escola foi de apenas dez meses. Da experiência com as artes manuais, sobretudo marcenaria e miniatura de móveis, desenvolveu habilidades que não seriam de jeito nenhum desperdiçadas mais adiante, conforme atestam as publicações impressas, as gravuras inconfundíveis, as inúmeras capas de livro e disco, exposições, oficinas.
O primeiro folheto é de 1964, com capa do poeta e xilógrafo Dila: O encontro de dois vaqueiros no sertão de Petrolina. A partir de 1965, incentivado pelo amigo cordelista Olegário Fernandes, resolve fazer a capa dos próprios folhetos, e então escreve e faz a capa de O verdadeiro aviso de Frei Damião. Nascido no Sítio Piroca, Bezerros, agreste pernambucano, a 20 de dezembro de 1935, José Francisco Borges nem avaliava o significado dessas decisões profissionais, apenas se deixava levar pela intuição criadora. Em 1976 faz uma das gravuras mais famosas: A chegada da prostituta no céu. A vida do sertanejo, o imaginário nordestino, as fabulações dos contos populares, o cenário rural e as narrativas de cordel declamadas pela boca do pai, tudo foi misturado na cabeça e nas memórias afetivas do artista, e o resultado é a plena vitalidade conferida à famosa e premiada obra, que tem sido traduzida em outras línguas e linguagens artísticas, a exemplo de peça de teatro, telenovela, filme, coleção de roupa.
É importante mencionar, ainda, a atuação da Gráfica J. Borges, em plena atividade, que, durante quatro décadas, utilizou tipos móveis e prensa manual na produção de cordéis e xilogravuras, e vem construindo desde então parte da história da literatura de cordel. Borges à frente, claro, contando com a participação dos filhos J. Miguel, Ivan, Manassés, Cícero, Pádua, Jerônimo (falecido); irmãos, cunhada, sobrinhos, como Amaro Francisco (falecido), Severino Borges, Nena, Joel, Lourenço, Givanildo; dos três mais novos, os filhos Pablo e Baccaro e o neto Williams. O filho George vive de serigrafia e Ariano é gráfico. Ao todo, foram gerados 18 filhos. E um grande projeto de vida e arte, de que é testemunha o Memorial J. Borges, onde o visitante pode apreciar as obras gráficas, plásticas, poéticas do mestre e, ainda, desfrutar de um dedo de prosa com o artista bom de papo.
J. Borges nasceu em 20 de dezembro de 1935, no município de Bezerros, agreste de Pernambuco.
Fonte: Amorim, Maria Alice