A Prefeitura de Agrestina vem, por meio desta nota, se solidarizar pelo falecimento do Mestre de cultura popular, José Otaviano da Silva Filho, o popular “Cazuza do Alfenim”. José Otaviano nasceu em 17 de maio de 1965 e faleceu ontem, dia 21 de fevereiro, aos 57 anos de idade, deixando mãe, irmãos, esposa, dois filhos, e um legado de grande valor para a cultura gastronômica do Estado de Pernambuco. O enterro será realizado hoje (22), às 16h, no Cemitério Novo São Sebastião, em Agrestina. A Prefeitura decretou luto oficial de três dias.
Conheça a história do Mestre Cazuza do Alfenim:
A cultura popular de Pernambuco se despede do Mestre Cazuza, filho da doceira agrestinense e Patrimônio Vivo de Pernambuco, Dona Menininha do Alfenim. José Otaviano da Silva Filho, conhecido popularmente por “Cazuza do Alfenim”, nasceu em 17 de maio de 1965 e se despediu deste mundo ontem, dia 21 de fevereiro, aos 57 anos. Além de um dos mais importantes legados, de valor material e imaterial para a cultura gastronômica de Pernambuco, partiu deixando esposa, dois filhos, irmãos, e sua mãe e mestra, que neste ano de 2023 completou 96 anos de idade.
Os mestres de cultura popular são pessoas que através da arte, da cultura e dos ritos, dedicam sua vida à preservação de saberes que são transmitidos geração após geração. E assim foi a vida do Mestre Cazuza. Ainda criança, aos sete anos de idade, aprendeu a arte da feitura do Alfenim, um doce simples, feito de água, açúcar e gotas de limão, de preparo sofisticado e grande valor cultural, que remonta ao período do Brasil Colônia.
Sua simplicidade talvez não o deixasse perceber, mas seu Cazuza não era só um produtor de uma iguaria pernambucana, era um mediador do tempo, guardião de memórias e heranças dos nossos antepassados. Além disso, inspirou novos aprendizes, como sua esposa e seus filhos, promovendo a manutenção de uma cultura que cruza passado e futuro.
Juntos, eram responsáveis pela maior produção de alfenins vendidos tradicionalmente nas festas de padroeiros das cidades e vilas da região do Agreste de Pernambuco, especialmente na Festa de Nossa Senhora do Desterro, em Agrestina, da qual se preparavam durante meses. E assim, ao longo de quase um século, o Alfenim caminha de braços dados com a cultura popular, nos levando de volta a um universo de procissões, parques de diversões e guloseimas. Cazuza também comercializava o docinho afetivo na feira livre de Agrestina, e por encomenda, para festas e outras feiras, como a feira de Caruaru, que é Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.
Durante sua trajetória de vida, recebeu o reconhecimento de especialistas, ocupando importantes espaços de conhecimento e transportando professores, estudantes e admiradores para o reencontro com esta técnica de sabedoria ancestral.
Ministrou oficinas na maior feira de artesanato da América Latina (Fenearte); em escolas de arte; mercado cultural e universidades da capital pernambucana; teve sua história eternizada no livro e documentário Shakkar: A cultura do açúcar e os saberes tradicionais da gastronomia de Pernambuco, da gastrônoma Ana Cláudia Frazão, lançado no Instituto Histórico Geográfico e Cultural de Garanhuns, em 2017, além de suas incontáveis participações em matérias jornalísticas na imprensa pernambucana e nacional.
Os mestres são pessoas que nos conectam com o nosso lugar de pertencimento, com o nosso passado e futuro, trazendo beleza em tempos onde cada vez mais nos distanciamos de coisas importantes, sobretudo de nossa história. Cazuza do Alfenim partiu, mas cumpriu bem a vocação de expor Agrestina, o Agreste, e Pernambuco, através de sua arte, mantendo viva uma tradição que envolve tempo, significados e identidade, e que ficará para sempre marcada em nosso povo.
Com gratidão, nos despedimos de um herdeiro direto dessa importante tradição, que nos encantou com o seu dom, repleto de sentido, beleza e memórias.
Foto: Adriano Monteiro/Decom